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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A TRANSFORMAÇÃO DA “ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO” NA “ÚLTIMA ESCÓRIA DO LATIM”: O infinitivo pessoal e a aula-protesto do mestre Napoleão

Napoleão Mendes de Almeida, no aclamado Dicionário de Questões Vernáculas, discorre por sete páginas - de letras miúdas -, indignado com o tratamento dado à nossa pobre língua: “...irá reduzir a língua portuguesa no Brasil, daqui a umas duas ou três gerações, ao nível do linguajar das cozinheiras de hoje”, profetizava,  com acerto.
Já em seu tempo o “aumento de escolaridade” significava “diminuição de ensino” e “criar vagas”, “reduzir horas de escola”. O que diria da aprovação automática?
O texto remete, a certa altura e...
exemplificando, que “Os jovens viciados em ver televisão aprendem desde cedo a cartilha da violência, tornam-se incapazes de raciocinar, de redigir a frase mais simples”. O ensino em seu tempo, comparado ao de hoje, era excelência. O raciocinar e o redigir declinaram a tal ponto que sequer os verbos sabem os alunos conjugar. O que dizer do conhecimento do infinitivo?
Ficaram suas palavras, sua lição, que reproduzo. Para concursos, para os estudantes, os redatores e mais quantos tiverem dúvidas, sempre haverá utilidade.
Se com a internet se perde, com a internet se pode, igualmente, encontrar: pessoas, amigos, conhecimento.
Bom proveito!

O INFINITIVO PESSOAL. NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA
De certo tempo para cá a “última flor do Lácio” vem-se transformando no Brasil em “última escória do latim”. Da borra linguística resultante da expansão mais do que da decadência do império romano, borra que se depositou no fundo do tacho da península ibérica, duas línguas ainda se formaram e chegaram com os séculos a ter suas gramáticas. Não tiveram, porém, os dois últimos rebentos o mesmo tratamento; enquanto nossa irmã gêmea se cultivava e preservava da praga do analfabetismo, nossa pobre língua encontrava terreno sáfaro e desprotegido; nossa gramática se formou, mas cheia de exceções, repleta de equivalências, ou melhor, de divergências sintáticas, de criações e, a um tempo, de reduções, de esquecimentos, de confusões. Se as espanhas se reproduziram, uma gramática se fixou para dar-lhes cidadania, enquanto a língua portuguesa no Brasil vem, desde o passamento de Rui Barbosa, sendo tratada com incúria cada vez maior e, dessa incúria, o fatal desprestígio de sua gramática.
Se na América do Sul o mais adiantado dos pequenos países de língua espanhola teve um Sarmiento a fundar mais de mil escolas em seis anos de presidência (1868-1874), o único país de língua portuguesa tinha, sessenta anos depois, dentro da mais adiantada de suas províncias, somente três escolas de nível médio (o ginásio estadual da Várzea do Carmo), na capital, e dois outros ginásios estaduais em cidades do interior); só em 1936 foi criado o quarto ginásio estadual, em Piraju, para agradar o chefe político da região. Se naquele país o analfabetismo era de 18 por cento ao tempo em que o nosso superava 50, hoje, com toda a “mobralização” que nos preocupa, andamos, ao que dizem, na casa dos 20 quando aquele país tem apenas 2.
Em nossa terra, onde “aumento de escolaridade” passou a ser sinônimo de “diminuição de ensino”, onde “criar vagas” é o mesmo que “reduzir horas de escola”, a gramática, armação do edifício da língua de um povo, tinha de ser minada nos seus alicerces. Os ex-alunos do antigo ginásio da Várzea do Carmo aprendem de seus netos que no Brasil não existe língua senão linguística, que nossa língua não deve ter gramática senão livros de leitura, que nosso idioma não se propaga por regras senão por fichas, que seu conhecimento não se revela por redação senão por testes. Gramática é para inglês, é para francês, é para italiano, é para espanhol; para português, não.
Com esse derrotismo não é de admirar a pusilanimidade de enfrentar certos problemas da nossa língua, mormente quando peculiares a ela, como o da pessoalização do infinitivo, ou seja, da conjugação do infinitivo de acordo com a pessoa do sujeito. Por que dizer “A tendência dos modernos estudiosos da língua é reconhecer que não há regras fixas e definitivas a propósito do assunto”? Ora! Sejamos mais sinceros e digamos: A conjugação do infinitivo é a maior prova de putrefação do nosso idioma ou, para maior suavidade, é consequência de confusão com o futuro do subjuntivo ou, ainda mais delicadamente, é resultante necessária da falta de escolas. Se em nenhum outro idioma provindo do latim o infinitivo é conjugado, como dizer que precisamos conjugar o infinitivo no nosso?
Clássicos nossos houve que, escrevendo em espanhol. Flexionaram o infinitivo, mas o espanhol cortou o mal a tempo, sem dar atenção a argumentos insustentáveis de “eufonia”, de “estilística”, de “ênfase”. Que procedimento é este de não ver eufonia em nossa língua nos mesmos passos existentes em línguas irmãs? Se com a maior naturalidade lemos uma passagem como “Voltemos atrás para INDAGAR um pouco das manhas e feitos do leigo”, por que não aceitar como certo “Preferimos odío para não CAIR logo a seguir em comerceio, remedeio”? Por que não aceitar como certo “A linguagem é o meio de que dispomos para, através das palavras, EXPRIMIR o nosso pensamento”?
Se compreendermos o “só” que inicia a regra de Frederico Diez, chegaremos à conclusão de que foi um alemão quem mais soube até agora notar o problema: “Só se flexiona o infinitivo quando é possível ser substituído por uma forma verbal, sendo indiferente que esse infinitivo tenha sujeito próprio ou não”. O “só” que inicia a regra de Diez é justificativa da flexão e não imperativo que nos obrigue a flexionar o infinitivo sempre que seja conversível numa forma verbal; é como uma “desculpa” da distração, uma “escusa” da confusão com o futuro do subjuntivo.
Não flexionemos o infinitivo quando nenhuma necessidade virmos de o conjugar: “Curvam-se para BEIJAR a fímbria da sua estringe” – “Preparavam-se para MORRER” – “Precisávamos cavar o chão para OBTER água” – “Cometeram tais atrocidades para AGRADAR aos chefes” – “Grandes razões para CONVENCER-nos têm VV.SS.” – “Já tivemos oportunidade de REFERIR-nos” – “Obrigai-nos a CONFESSAR que sois amigos dos brasileiros” – “Obrigando-os por via de tormento a RESTITUIR aquilo que tinham ocupado” – “Convidam os homens a PRESERVAR na continuação do pecado” – “Forçou os inimigos a FUGIR” – “Pela capacidade em que ficam para VIVER foram da prisão – “Não temos tempo nem papel para TRATAR do assunto” – “A linguagem é o meio de que dispomos para, através de palavras, EXPRIMIR o nosso pensamento”.
É igualmente desprezível o argumento de que “o flexionamento serve de insistir na pessoa do sujeito”; como insistir na pessoa do sujeito se a primeira e a terceira do singular têm a mesma forma do infinitivo impessoal? A inconsistência do argumento faz lembrar a dos que diziam que a pronúncia “amamos” distingue o passado do presente “amamos”; que distinção é essa se na segunda conjugação não é necessária e na terceira é de todo impraticável?
Uma coisa é gramática, que aceita os fatos e procura agrupá-los para maior e mais fácil divulgação, outra é fazer considerações fugidias, como essas de “estilística”, de “ênfase”, de “subjetivismo”, de “seleção”, de “insistência na pessoa do sujeito”, considerações que nada ensinam, que nenhuma orientação oferecem a estrangeiros ou a filhos nossos que se põem a estudar a nossa língua.
A) Sempre fizemos eco à afirmação de nossos mestres de que a flexão do infinitivo é fato exclusivo do português: “Gerado na língua esse maravilhoso lusitanismo, um dos privilégios mais invejáveis do nosso idioma” (Rui Barbosa) – mas essa afirmação está a merecer reparos; continuamos a sustentar que a pessoalização do infinitivo em português é a mais convincente prova de deteriorização do nosso idioma; sustentamo-lo e vemo-lo cada dia mais reforçado diante das inteiramente infundadas, levianas, inconscientes flexões do nosso infinitivo. De jornais lidos estes dias temos estas inconveniências de flexão: “...quando viram os brasileiros chegarem em suas caravelas” – “Cabe aos psiquiatras julgarem” – “Acusados de prepararem boletins considerados subversivos” – “...dando às minorias o pleno direito de se organizarem e de manifestar seus pontos de vista” (fechando os olhos para os “pontos de vista”, olhemos para o organizarem, flexionado, e logo a seguir para o manifestar, não flexionado).
Esta incongruência como aquelas flexões são provas encontráveis diariamente em trechos de redatores apressados, de prosadores descuidados. Nesses exemplos não cabe justificativa nem de clareza nem de harmonia, nem de precisão nem, muito menos, de economia de expressão, coo se dá no húngaro, onde o infinitivo se flexiona de forma obrigatória, precisa e concisa, com  um objetivo gramaticalmente determinado de que não se pode fugir. Se não, vejamos esta lição de Dom Gabriel Irossi, grande linguista húngaro.
Opera-se em húngaro a flexão do infinitivo com certos verbos, que chamaremos impessoais, formados de adjetivo, como “é preciso”, “é bom”, “é aconselhável”, “é perigoso” etc. Tomemos por exemplo kell, que significa “é preciso”; ele é impessoal; corresponde à terceira pessoa do singular dos verbos impessoais portugueses; ele vai funcionar numa locução verbal – suponhamos “é preciso ir” – como auxiliar, e a forma da ideia principal – em nosso exemplo o infinitivo “ir” – é que irá flexionar-se para indicar a pessoa do sujeito. O verbo ir é em húngaro menni, onde temos o radical men acrescido da desinência do infinitivo ni. Menni kell significa, portanto, “é preciso ir”.
Pois bem: aqui vem a flexão do infinitivo húngaro: Para dizer “é preciso eu ir”, “é preciso tu ires”, “é preciso ele ir” etc., a desinência ni do infinitivo é mudada por desinências correspondentes aos sujeitos, e temos, para cada uma das pessoas gramaticais: mennem kell (ir eu é preciso), menned kell (ires tu é preciso), mennie kell (ir ele é preciso), mennunk kell (irmos nós é preciso), mennetek kell (irdes vós é preciso), mennuk kell (irem eles é preciso).
Esse comportamento da língua húngara não permite que continuemos a afirmar constituir a flexão do infinitivo fato exclusivo da língua portuguesa. A distinção, repetimos, está em ela ser fato real, obrigatório, com significação e finalidade precisas na língua húngara, e procedimento muitas vezes leviano e sem a necessária determinação flexional do sujeito em português; tanto assim é que a forma da primeira pessoa é em nossa língua idêntica à do infinitivo impessoal e, ainda mais, a terceira do singular é idêntica à primeira.
Acompanhemos mais um pouco o padre Gabriel Irossy. Como em outras línguas, formas há em húngaro que se prestam para indicar o substantivo e o verbo. Zar é  “fechadura” e também “ele fecha” (os verbos em húngaro são citados na terceira do sing. do id. pres.). É tão caraterizado o húngaro pelas desinências, que o possessivo do substantivo é indicado por flexão: zárom – fechadura minha / zárod – fechadura tua / zára – fechadura dele / zárunk – fechadura nossa / zárotok – fechadura vossa / záruk – fechadura deles.
Se a forma verbal zar é “objetiva”, isto é, referente ao sujeito e ao objeto, tem ela uma flexão (ind. Pres.): zárom - zárod – zárja – zárjuk – zárjátok – zárják.
Se a conjugação é “subjetiva”, isto é, referente ao sujeito como em outras línguas, o presente do indicativo tem estas flexões: zárok – zársz – zár – zárunk – zártok – zárnak.
E o infinitivo, quando seguido de adjetivo que indique “é preciso”, “é bom”, “é aconselhável”, “é perigoso” etc., será: zárnom – zárnod – zárnia – zárnunk – zárnotok – zárniuk.
Cremos ter transmitido ao leitor, com fidelidade e clareza, a explicação do mestre húngaro do quanto são em sua língua caraterísticas as desinências pessoais. Temos em português, é verdade, a pessoalização do infinitivo, mas ocorre em outras circunstâncias que tentaremos expor a seguir.
B) É verdadeiramente desconcertante para o professor de português o problema da flexão do infinitivo pessoal; tropeços enormes encontram-se para a própria exposição e explanação do assunto, e maiores ainda para a fixação, não dizemos de regras, mas de normas que possam guiar o leitor. Tal a barafunda de certas gramáticas, que o leitor chega a conclusões desesperadoras e, muitas vezes, falsas e nocivas, como esta: “Observadas tão somente as exigências da clareza e da eufonia, o emprego do infinitivo é facultativo”.
Por mais escabrosa, no entanto, iremos explicar, procurando ser o mais possível claro e sintético, esta árida e árdua questão.
Há duas espécies de infinitivos: o impessoal e o pessoal. O impessoal é o infinitivo puro, é a forma nominal essencialmente substantiva do verbo; é inflexível. O PESSOAL é o infinitivo empregado com referência a um sujeito e – aqui nasce a dificuldade – em português ora não é flexionado e se confunde com o impessoal. Quando flexionado, assim se conjuga: por ter eu - por teres tu – por ter ele – por termos nós – por terdes vós – por terem eles.
Fizemos anteceder as diferentes flexões do infinitivo da preposição por para evitar confusão com o futuro do subjuntivo, confusão de que, às vezes, nem todos sabem furtar-se; quando tiver, quando tiveres, quando tiver, quando tivermos, quando tiverdes, quando tiverem. Todos sabemos que somente nos verbos regulares as flexões do infinitivo pessoal são idênticas às do futuro do subjuntivo.
A flexão do infinitivo é notada nos mais antigos documentos da literatura lusa. Gil Vicene cometeu o erro de escrever em espanhol: “Teneis gran razon de llorardes vuestro mal” (Obras, II, 71). Alguns poetas do Cancioneiro Geral caíram no mesmo engano. Camões, que muito escreveu em espanhol, foi sempre correto.
Três vantagens temos na correta flexão do infinitivo: clareza na expressão do pensamento, pois a flexão sempre evidencia o sujeito; beleza, uma vez que a pessoalização do infinitivo oferece ao escritor mais largo ensejo para variar e colorir o estilo, dando mais ensanchas à linguagem; concisão, que sempre se encontra em subordinadas reduzidas.
Foi Soares Barbosa o primeiro gramático que tentou regular o problema da flexão do infinitivo, formulando os dois seguintes princípios (Gramática Filosófica, 1803):
1. Flexiona-se o infinitivo quando tem ele sujeito próprio, diverso do sujeito do verbo regente; não se flexiona quando os sujeitos são idênticos.
Em resumo:
Sujeito próprio – flexiona-se
Sujeito idêntico – não se flexiona
Exemplos: Declaramos (nós) estarem (eles) prontos – Ouvi (eu) chamarem-se os amigos – Julgo (eu) poderes (tu) com isso – Assinei (eu) o “Estado” para proporcionar (eu) a meus filhos oportunidade de lerem (eles) artigos interessantes – Solicitamos (nós) não deixarem V.Sas., de comprar (V.Sas.) – Envio-lhe esta carta, que peço (eu) assinarem e devolverem (eles) – Solicitamos (nós) o obséquio de enviarem (V.Sas.)...
Outros exemplos: Peço aos meus amigos o obséquio de não entrarem – É louvável o desejo de aprenderem – Anima-nos a esperança de triunfarmos – Referi-m e à intenção de partirem – Só me cabe aplaudir a resolução de amparardes os pobres.
Em todos esses exemplos da primeira parte da regra de Soares Barbosa há sujeitos de infinitivos diferentes dos sujeitos dos verbos ou expressões de que dependem esses infinitivos.
Vejamos agora exemplos da segunda parte da regra, em que os infinitivos não são flexinados por terem sujeito idêntico ao do verbo de que esses infinitivos dependem: Declaramos (nós) estar (nós) prontos – Declararam (eles) estar (eles) prontos – Julga (tu) poder (tu) com isso – Julgo (eu) poder (eu) com isso – Temos (nós) o prazer de lhe participar – Tivemos (nós) a honra de informar – Eles tinham a certeza de triunfar – Tinham necessidade de tudo declarar – Ficam com liberdade de movimentar-se.
2. Continua Soares Barbosa: Flexiona-se ainda o infinitivo quando empregado como sujeito, predicado, ou complemento de alguma preposição, em sentido não já abstrato, vago, mas concreto, determinado – isto é, quando o infinitivo é empregado não em significação geral, universal, mas em referência a determinado, a especificado sujeito.
Exemplos em que o infinitivo é sujeito: O louvares-me tu me causa novidade – Lutarmos é o nosso dever – Não é necessário pedires-me tu isso – Santificares-te e fazeres o bem deve ser teu lema – O falares dessa maneira prejudicará o negócio – Sirva-nos de lenitivo à derrota o termos resistido com coragem – Era de crer que o seguirmos, os membros do segundo, a lição... – Bem custoso seria resistirem os inimigos a Tarik – Não é possível assaltarem esses perversos o arraial – Cumpre avisares Ruderico – É pouco provável resistirem os jovens à prova – Nem é menos de ver no meio do mar saírem as águas e o fogo juntamente das nuvens – É certo terem partido os navios – Não é de prudência dizerem-se tais coisas publicamente – Não compete a vocês queixarem-se de nós – Como nos havia de ser defeso recorrermos para a mesma serventia – Viu-se ao longe, para a banda das serranias, resplandecerem as cumiadas das montanhas.
Exemplos em que o infinitivo faz parte do predicado: Nada mais supreendente do que verem-na desaparecer – Os trabalhadores que acontecia passarem por ali.
Exemplos em que o infinitivo é complemento de alguma preposição ou locução prepositiva: Os maus, com se louvarem, não deixam de o ser – Em virtude de estarem entrando os despachos de setembro – A maneira de os alunos estudarem as lições – Eles, os homens, para se desculparem – As flores, além de constituírem matéria-prima – É tempo de partires.
C) Observe-se que: 1. Nos exemplos da segunda regra de Soares Barbosa os infinitivos pessoalizados determinam, concretizam o verbo com relação ao sujeito, o que não aconteceria se viessem não flexionados: Fácil é vencerLutar é o nosso dever.
2. Corolário evidente desta segunda regra é o princípio: Não se flexiona o infinitivo quando, empregado como sujeito ou predicado ou complemento de alguma preposição, é tomado em sentido vago ou não necessita, para clareza, de flexão indicativa do sujeito: Imaginavam que seguir metáforas é descabeçar adágios – Pede-se aos senhores passageiros a fineza de, ao entrar ou sair, fechar as portas do elevador.
3. Pode-se seguramente afirmar: Também quando objeto o infinitivo se flexiona, quando empregado em sentido determinado e quando necessária a flexão para determinação do sujeito: Perdoe-te o céu o haveres-me enganado.
D) Ótimas seriam as duas regras de Soares Barbosa, se esses somente fossem os casos de emprego do infinitivo: tanto não são elas completas que Camões, como todos os clássicos e modernos representantes de nossas letras, apresenta exemplos que a elas não se adaptam. Camões escreveu: “Folgarás de veres” – construção que contraria a primeira regra de Soares Barbosa, pois os sujeitos são idênticos (Folgarás – tu – de veres – tu). Bernardes escreveu: “Que traça dariam para todavia comerem até fartar-se?” – onde, não obstante serem idênticos os sujeitos, o infinitivo está flexionado. Castilho redigiu: “Assaz mostraste seres cabal...” – flexionando o infinitivo, quando o sujeito é o mesmo do verbo mostraste: tu.
E) Aparece então outra regra, trinta e três anos depois da de Soares Barbosa, formulada por Frederico Diez (pronuncie dilz), em sua “Grammatik der Tomanischen Sprachen” (Gramática das Línguas Românicas – 1836-1844), procurando justificar exemplos e mais exemplos:
Só se flexiona o infinitivo quando é possível ser substituído por uma forma modal, sendo indiferente que esse infinitivo tenha sujeito próprio ou não”: Alegram-se por terem visto o pai (alegram-se porque viram) - Afirmo terem chegado os navios (que chegaram) -  Que mal te fiz eu, ó meu Deus, para não me deixares (para que não me deixes) – Deviam persegui-lo sem descanso nem tréguas até o cativarem (até que o cativassem) – Ficaram feridos até conseguirem reaver (até que conseguissem reaver) – Que traça dariam para todavia comerem até fartar-se? (para que comessem) – Que também esses se ergam para pelejarem batalhas tremendas (para que pelejem) – Guarda-o para o empregares melhor (para que o empregues) – Trabalha, meu filho, para agradarem tuas obras a Deus (para que agradem) – Leis que se fazem para se não cumprirem (para que não se cumpram) – A cidade de Goa não queria largar seus ossos para se trasladarem à de Lisboa (para que se trasladassem) 0 Grandes razões para nos convencerem têm V.Sas. (para que nos convençam) – Sem que tal circunstância obrigue os amigos a efetuarem (a que efetuem) – O governo obrigou as fábricas a produzirem (a que produzissem) – Temíamos por sermos homens (porque éramos homens) – Já tivemos oportunidade de nos referirmos (de que nos referíssemos).
Para terminar a série de exemplos: Acreditando tu não me teres ofendido (que não me ofendeste). A redação “Acreditando tu não me ter ofendido” traria sentido reflexivo ao verbo ofender, fazendo supor seu sujeito a primeira pessoa: “... não me ter (eu) ofendido” – quando não é esse o sentido que o autor quer dar à frase. A flexão aí se impõe, já por ser conversível a forma nominal em forma modal, já por a exigir a clareza. Vejamos estoutro exemplo de Herculano: “Os dois dias que me pediste para chorares o teu cativeiro” (para que chorasses); a não flexão do infinitivo não evidenciaria com precisão o sujeito.
F) Uma observação se impõe à regra do filólogo alemão, pois precisamos compreender o “só” que a inicia: A regra é justificativa da flexão e não imperativo que nos obrigue a flexionar o infinitivo sempre que seja conversível numa forma modal. Achando um autor que o infinitivo, embora conversível numa forma modal, nenhuma necessidade sofre de flexionar-se, pode deixá-lo não flexionado: “Curvam-se para beijar a fímbria da sua estringe” – “Preparavam-se para morrer” – Precisávamos cavar o chão para obter água” – “Cometeram tais atrocidades para agradar aos chefes” – “Grandes razões para convencer-nos têm V.Sas.” – “Já tivemos oportunidade de referir-nos” – “Obrigai-nos a confessar que sois amigos dos brasileiros” – “Obrigando-os por via de tormento a restituir aquilo que tinham ocupado” – “Convidam os homens a perseverar na continuação do pecado” – “Forçou os inimigos a fugir”.
Confrontando as regras de Soares Barbosa com a de Diez, pode o leitor fazer estas considerações:
G) 1. É interessante notar que Diez encarou o problema por faces inteiramente diferentes.
2. A nova regra vem justificar grande número de legítimos exemplos que não se amoldavam às regras de Soares Barbosa: “Folgarás de veres” (de que vejas) – “Mostraste seres cabal” (que és cabal) - "Que traça dariam para todavia comerem...?” (para que comessem).
Quer isso dizer que, ao mesmo tempo que esclarece o assunto, vem chocar-se com a regra de Soares Barbosa, pois justifica a possibilidade da flexão do infinitivo em casos em que os sujeitos são idênticos.
3. Mesmo chocando-se numa parte, esclarece, por outra, o problema, servindo ambas de “fio condutor no labirinto do uso clássico do infinitivo flexionado”.
H) Ficam ainda essas duas normas aquém dos fatos, os quais, em grande variedade e incerteza, não se subordinam à disciplina gramatical. Contra a teoria de Soares Barbosa insurgem a cada passo fatos de incontestável vernaculidade clássica, muitos dos quais vão igualmente fazer rosto ao eminente gramático alemão. Por exemplo: “Não nos deixeis cair em  tentação” -  “Deixai vir a mim os pequeninos” – “Fazei-os sentar” – são construções em que os infinitivos cair, vir, sentar têm  sujeito próprio (vão, pois, contra a regra de Soares Barbosa), e podem ser substituídos por formas modais (contrariando, dessa forma, ao mesmo tempo, a regra de Diez).
Notemos, ainda, exemplos como estes: “Alguns mancebos mais destros fingiam acometer-se, pelejarem, vencerem, serem vencidos” (Herculano) – “Assaz mostraste seres cabal para dizer verdades” (Castilho). Os infinitivos acometer e dizer tinham os mesmos motivos que os outros (pelejarem, vencerem, serem – para o primeiro exemplo – e seres, para o segundo) para se flexionarem. De semelhante liberdade encontramos frequentes exemplos nos clássicos.
Vê, pois, o leitor a insuficiência das duas regras tradicionais sobre o assunto; daí a necessidade de outras normas que expliquem e convenientemente justifiquem exemplos que contrariam os dois citados mestres.
I) LOCUÇÃO VERBAL – 1. Deve o leitor aceitar que as regras dos eminentes mestres são, antes de regras, justificativas da pessoalização do infinitivo. No caso de serem idênticos os sujeitos, devemos recorrer à forma flexionada somente quando o exigir a clareza.
Inútil e, conseguintemente, errada será a flexão toda vez que o infinitivo formar com o verbo subordinante uma locução verbal, isto é, quando o infinitivo vier intimamente subordinado ao verbo de que depende.
Construções como: Desejamos comprarmos livros – Desejando V. Sas. comprarem livros – Lamentamos não podermos -  Estão merecendo serem – Acham-se em mau estado, devendo serem substituídas – Esperando sermos atendidos – são construções inteiramente obtusas; nelas os infinitivos tornam-se como partes essenciais do verbo de que dependem, como, mutatis mutandis, os termos que concorrem para a formação de uma locução adverbial: É tudo um só verbo e, por conseguinte, só o primeiro se flexiona. Os infinitivos comprar (para os dois primeiros exemplos), poder (para o terceiro) e ser (para os três últimos) dependem, intrinsecamente, das formas verbais desejamos, desejando, lamentamos, estão merecendo, devendo, esperando.
2. Entram no rol das locuções verbais exemplos como estes: “Tinham muito com que se alegrar” – “Tiveram bastante com que se ocupar” – Há nesses exemplos elipse do verbo poder, que forma com o infinitivo da oração a locução verbal: “Tinham muito com que se (pudessem) alegrar” – “Tiveram bastante com que se (pudessem) ocupar”.
Quando tem o mesmo sujeito do verbo subordinante, o infinitivo não necessita flexionar-se  se nenhuma exigência houver para a clareza. Se é fácil, pelo menos PR ora, notar que são obtusas construções como “desejamos comprarmos”, “lamentamos não podermos”, “devem serem atendidos”, “deveriam compreenderem”, “irão logo serem atendidos”, pode escapar-nos a inconveniência da flexão do infinitivo em passagens como estoutras: “gastam cerca de quatro horas para FAZEREM o percurso”, “tinham muito com que se OCUPAREM”. Nem naquele nem neste passo o infinitivo – ainda que conversível em modo finito (justificativa de Frederico Diez) – necessita flexionar-se, dada a existência de um único sujeito.
Outros exemplos – todos tirados de jornais – aqui transcritos sem a injustificável pessoalização do infinitivo: “...mas estão totalmente equivocados ao PENSAR que podem criar problemas” – “...médicos que são imprecisos ao EXPRESSAR os diagnósticos” – “...e vão mais longe ao AFIRMAR que...” – “Bons governadores e diretores que se prezam de o SER devem...” – “Encontram-se eles em condições de EQUIPAR os veículos com rádios transmissores e de MONTAR uma central de comunicação” – “Ficaram impedidos de ATRAVESSAR a rua” – “...pelas empresas estatais impedidas de REALIZAR aumento de capital por subscrição pública” – “...missionários proibidos de ASSISTIR índios” – “...empresas interessadas em EMPREITAR serviços de transporte por ônibus”.
O abuso da flexão chega a parecer-nos que o redator julga cometer erro de concordância se não pluralizar o infinitivo; nada disso; o erro está em não saber ele o que é infinitivo e em não conhecer as poucas regrinhas a que se subordina sua flexão.
J) ORAÇÃO INFINITIVO-LATINA – Quando o infinitivo juntamente com o seu sujeito (quer realmente expresso, quer substituído pelo correspondente pronome oblíquo) constituem oração infinitivo-latina, o infinitivo é empregado na forma não flexionada, não obstante as regras dos dois mestres: “Não nos deixeis cair em tentação”.
Vê o leitor que essa construção não se enquadra nas normas de Soares Barbosa (são diferentes os sujeitos) nem na de Frederico Diez (o infinitivo é conversível numa forma modal: Não deixeis que caiamos); não obstante, é tal construção legítima e usual: Fazei-os parar – Os raios matutinos faziam alvejar os turbantes – Viram desaparecer os godos – Vendo (ele) voltear ante si as imagens risonhas do opróbrio – Mandou-os o Senhor pregar pelo mundo – Que nem no fundo os deixa estar seguros – Deixai vir a mim os pequeninos – Napoleão viu seus batalhões cair – Vi os navios que partiam desaparecer no horizonte – Vejamos do ar cair as nuvens e as neves.
Rara e excecionalmente aparece a forma flexionada, como nestas passagens do Poeta: “E verão mais os dois amantes míseros ficarem na férvida e implacábil espessura” – “Que eu vos prometo, filha, que vejais esquecerem-se gregos e romanos pelos ilustres feitos”. Mas todos nós sabemos o que está na Arte Poética (9, 10): Aos poetas tudo é permitido.
“Não deixe os outros ENTRAR” – assim  se diz, e não: “Não deixe os outros entrarem”. Quando se apresenta um infinitivo (entrar) com sujeito próprio (os outros), dependente de um verbo (deixe) que tem outro sujeito (você), o infinitivo não se flexiona. Outros exemplos: Mandei os meninos SAIR – Ouvi as cornetas TOCAR – Senti duas pedras BATER em mim – Vi os homens DESCARREGAR o material – Fazia os alunos COPIAR as perguntas – Deixemos os garotos BRINCAR.
A ordem dos termos de orações assim construídas (a construção tem o nome de sujeito acusativo e opera-se com os verbos deixar, fazer, mandar, ouvr, sentir, ver) não impede que sigamos esse cuidado de não pessoalizar o infinitivo: “Deixai VIR a mim os pequeninos” (o sujeito – pequeninos – está posposto ao infinitivo) – “Não nos deixeis CAIR em tentação” (o sujeito – nos – está anteposto ao primeiro verbo).
Tampouco impede sigamos a correta impessoalização do infinitivo o vir o sujeito expresso por pronome oblíquo acusativo, como acabamos de ver na Oração do Senhor; outros exemplos: Fi-los ESCREVER – Mandaram-nos SAIR – Senti-os ADORMECER – Vejamo-los PARTIR – Não os ouvimos CANTAR. Fugir desse procedimento em orações de sujeito acusativo (também chamadas orações infinitivo-latinas) é demonstrar falta de estudo de gramática ou, pelo menos, de leitura de quem sabe escrever.
Num jornal encontramos: “Os policiais destacados para o primeiro posto paulista da Fernão Dias ficam apenas observando os caminhões PASSAREM com excesso de peso, sem PODER fazer nada”.
Quando errou o noticiarista? Ao flexionar passar ou ao não flexionar poder?
Sempre que na ocorrência de dúvida de flexão do infinitivo notarmos que nenhuma necessidade há para clareza de pessoalização, deixemo-lo invariável. Com a naturalidade com que não flexionou poder, podia e devia ter o jornalista redigido “observando os caminhões passar”, por ser oração infinitivo-latina, ou por outra, oração com sujeito acusativo: o infinitivo permanece invariável: “mandei-os sair”, “fi-los trabalhar”, “vi os meninos correr e desaparecer” e “deixai os pequeninos vir até mim”, “não nos deixeis cair em tentação”, “observando os caminhões passar”.
Quando nas orações infinitivo-latinas em que o sujeito é expresso por um oblíquo o infinitivo for constituído de verbo pronominal, manda a eufonia (a eufonia é decorrência do uso) que não se empregue o oblíquo do pronominal. Assim é que não dizemos: “Fazendo-nos sentar-nos junto de si” nem, “Fazendo-nos sentarmo-nos” (construção arrepiante), mas, simplesmente: “Fazendo-nos sentar”.
Ouçamos para o caso o professor Álvaro Guerra: “De boa sintaxe, pois, são os seguintes torneios de elocução: “Faz-me recordar do passado” – “Fez-te arrepender dos teus crimes” – “Fazia-nos curvar ante a sua majestade” – em vez de: “Faz-me recordar-me do passado” -  “Fez-te arrepender-te” etc. A duplicação do pronome átono, em tais expressões, evita-se simplesmente por eufonia. A mesma sintaxe, aliás, se nos oferece com os verbos mandar, deixar, ver, ouvir etc., quando, conjugados ou não, regem um infinitivo em idênticas condições: “Mandou-nos sentar” – “Deixou-nos levantar” – “Viu-nos deitar” – “Ouviu-nos queixar da sorte” – “Ele não nos deixará enganar”.
Embora somente o pronome reto deva funcionar como sujeito, há esse caso em que o oblíquo desempenha essa função. Tal se dá em orações em que entram os verbos deixar, fazer, mandar, ouvir, sentir e ver quando esses verbos têm, como objetos, outros verbos no infinitivo: “O médico fê-LA andar” – “Mandei-O entrar” – “Deixaram-ME sentar”.
Não é intenção de quem diz “Vi um homem morrer” declarar que “viu um homem” mas, sim e unicamente, que “viu morrer”; morrer é que é o objeto de viu.
“Mandei o menino assobiar, cantar e, finalmente, sair” – é oração em que se atribuem ao verbo mandar diversos objetos, constituídos pelos infinitivos assobiar, cantar e sair, dando-se-lhes um mesmo sujeito: menino.
Substituindo-se, em qualquer construção semelhante à dos exemplos acima, o sujeito do infinitivo pelo correspondente pronome pessoal, este irá aparecer na forma oblíqua: vi-o morrer, mandei-o assobiar.
Outro exemplo de sujeito acusativo temos em orações como “Maria deixou-se ficar”. Aqui o se é realmente sujeito, mas sujeito acusativo, ou seja, sujeito de um infinitivo; tem função etimologicamente certa, que não pode ser confundida com a profligada “função francesa do se”. 406
Pelo fato de nessas orações aparecer na forma oblíqua acusativa o pronome, não nos devemos deixar enganar na sua análise; o “o”, o “La”, o “me”, o “se” dos exemplos dados não são objetos diretos; objeto direto do verbo principal é toda a oração infinitiva, juntamente com o respectivo sujeito no caso acusativo. Tais sentenças nossas constituem legítimos exemplos de orações infinitivo-latinas.
Não somente sentenças nossas poderemos apresentar dessa construção latina, mas – hoje facilmente compreensíveis para muitos – sentenças inglesas, e em número maior porque o inglês a emprega com mais verbos que o português. A diferença está no seguinte: Enquanto as crianças de língua inglesa aprendem e fixam desde os mais tenros anos a construção “He wants me to tell you that...” (Ele manda-me dizer-lhe que...), nós com desanimadora frequência ouvimos “ele manda eu dizer...”, “mandei ela sair”. Se falta de escolas é realidade entre nós, desprezo de gramática é realidade da “língua brasileira”.
“Forçam os jovens a pensar antes de promover desordens” – assim estava no jornal, e o redator merece elogios por não ter flexionado nenhum dos dois infinitivos. De fato: a) não pessoalizou o primeiro (pensar) porque forçar é dos verbos portugueses que exigem a antes do infinitivo (GR. METÓDICA, §  683, 4, e) e, pois, jovens continua sendo sujeito acusativo (§ 926); b) não pessoalizou o segundo (promover) porque tem sujeito claro, é o mesmo do verbo anterior (METÓDICA, § 921, obs.): Obriguei-os a estudar antes de partir para as férias – Convidamo-los a vir até nosso escritório antes de tomar qualquer decisão.
Outro deve ter sido o redator que no mesmo jornal, e com a mesma naturalidade, atirou-nos este solecismo: “Como poderão o congresso e o presidente trabalharem juntos?” Sim, senhor; a que atrocidades estamos sujeitos: eles poderão trabalharem, nós vamos cuidarmos, devemos pensarmos... E dizer que houve quem reclamasse de nossa conclusão publicada anos atrás: “A conjugação do infinitivo é a maior prova da putrefação do nosso idioma ou, para maior suavidade, é consequência de confusão com o futuro do subjuntivo ou, ainda mais delicadamente, é resultante necessária da falta de escolas”.
K) 1. PREPOSIÇÃO E INFINITIVO – 1) Quando o infinitivo, juntamente com a preposição a, equivale ou a um particípio presente latino (Flores a recender cheiros – flores recendentes) ou a um gerúndio (Andavam a entrar-lhe por casa – andavam entrando), usa-se a forma não flexionada: Seculares a desfrutar cinco ou seis abadias – Flores a recender cheiros vários – E tu a reprovar – Os santos a pregar pobreza, a persuadir-lhe humildade – Todos trabalhavam , mas uns a construir, outros a destruir – Nós a esclarecer o assunto, vós a simplesmente negar - ... um epicentro de crise institucional, com ondas a se propagar pelo resto do país.
2. Mesmo que o infinitivo regido da preposição a constitua complemento de substantivo ou de adjetivo, emprega-se, de preferência, a forma não flexionada: Destinados a conseguir grandes coisas – Fadados a passar – Tendentes a submeter – Condenados a pagar pesada multa.
A mesma preferência tem o infinitivo não flexionado quando constitui complemento de substantivo ou de adjetivo, qualquer que seja a preposição: Estâncias de propósito fabricadas para hospedar os peregrinos – Penas para escrever cartas – Instrumentos para lavrar a terra – Desejosos de alcançar vitória - Olhos cansados de a chorar – O direito que nos cabe de ser ciosos de nosso idioma.
Preparados para SOFRER – Assim devemos dizer, sem flexionar, por completamente desnecessário, o infinitivo: “Avisados para partir de madrugada, cuidaram de dormir cedo”. Nem beleza nem clareza existem na pessoalização de infinitivos dependentes de particípios já pluralizados: cansados de sofrer, ansiosos por chegar, destinados a conseguir grandes coisas, fadados a não passar, inclinados a desenhar, preocupados com deixar tudo em ordem, penalizados por ver tanta desgraça, empenhados em socorrer as vítimas.
Acusados de ESTAR – É outro exemplo de completa desnecessidade de flexionar o infinitivo. Qualquer que seja a preposição, o infinitivo não deve vir flexionado quando complemento de substantivo, de adjetivo, de particípio (grifei): fadados a MORRER – enviados para IMPEDIR o alastramento da doença – desejosos de ALCANÇAR – cansados de PEDIR – Cabe-nos o direito de RECLAMAR – duros de ROER – cartas por ESCREVER.
A pessoalização do infinitivo dos nossos verbos, fenômeno gramatical de procedência duvidosa, deve limitar-se aos casos de real necessidade de evidenciar, de identificar, de indicar o sujeito, e não subordinar-se a caprichos de estilo. “Os jovens viciados em ver televisão aprendem desde cedo a cartilha da violência, tornam-se incapazes de RACIOCINAR, de REDIGIR a frase mais simples” – é a construção portuguesa, limpa da extravagante e tola flexão dos infinitivos.
“Temos liberdade de CONSERVAR o processo seletivo” – “Temos capacidade de EXERCER nosso mister” – “Somos capazes de ENFRENTAR a situação”: Onde a necessidade de flexionar o infinitivo? Ante a falta de escolas, ou melhor, de professores que se deem ao trabalho de preservar a última flor do Lácio, longe não estamos da construção “nós vamos esforçarmo-nos”, “devemos fazermos”, “vão todos plantarem batatas”.
Estradas difíceis de PASSARTambém não se flexiona o infinitivo que, complemento de substantivo ou de adjetivo, tem sentido passivo (grifei): Ossos duros de ROER – Cartas por ESCREVER. Nem Soares Barbosa nem Frederico Diez nem ninguém encontraria justificação para a pluralização do infinitivo nesse caso.


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L) POSIÇÃO – DISTÂNCIA – Quando um infinitivo preposicionado precede ao verbo regente ou quando, quer preposicionado quer não, vem distanciado do verbo regente, a clareza permite a flexão mesmo no caso de serem idênticos os sujeitos (grifei).
Exemplos de infinitivo preposicionado antes do verbo regente: Para se consolarem, os infelizes dormiam tranquilos – Na expectativa de sermos atendidos, muito lhe agradecemos.
Exemplos de infinitivo distanciado: Possas tu, descendente maldito de uma tribo de nobres guerreiros, implorando cruéis forasteiros seres presa de vis aimorés – Deviam-no trazer todos vocês nas palmas, dar mil graças aos céus, e acabarem de crer – Foram dois amigos à casa de outro a fim de passarem as horas da sesta – Viam-se lampejar as armas nos visos dos dois últimos outeiros que por aquela parte rodeavam o campo, e agitarem-se ondas de vultos humanos e sumirem-se, onda após onda – As aves aquáticas redemoinhavam nos ares ou pousavam sobre as águas, e pareciam, nos voos incertos, ora vagarosos, ora rápidos, folgarem com os primeiros dias da estação.
Vê o leitor que a intercalação de palavras ou frases entre o verbo subordinante e o infinitivo pode causar a flexão: “Quando, na redação da frase, grande número de palavras mediam entre a primeira e a segunda forma infinitiva, nem sempre fere o ouvido o supérfluo e inconveniente da flexão a esta desnecessariamente impressa” (Rui). – Ao mesmo tempo que permite, acha Rui desnecessária a flexão; o ouvido se esquece da subordinação, e daí provém a supérflua e inconveniente flexão do infinitivo.
Vejamos mais este exemplo em que, como em outros dados logo acima, o primeiro infinitivo, por vir próximo do verbo subordinante, encontra-se na forma não flexionada, e estão flexionados os outros infinitivos por se distanciarem do verbo subordinante: Praza a Deus que Bolívar, San Martin, Nabuco e tantos outros continuem a imitar os servos deste Novo Mundo, a prosseguirem na sua marcha e a manterem vivo o fogo... – Releiamos o exemplo sem flexionar os dois últimos infinitivos e veremos que é realmente “supérflua e inconveniente” a flexão.
Repisemos o assunto: “Depois de SERRAREM as grades e FAZER uma “Teresa” (corda com lençóis e camisas), oito presos fugiram ontem de madrugada da cadeia de Itapecerica da Serra”.
Não conhecemos o delegado da cidade paulista nem sabemos se ele ou outrem redigiu a notícia. Conquanto encontrável a incoerência em autores de maior autoridade linguística do que policial, o exemplo evidencia a insegurança e a um tempo a desnecessariedade da concordância do primeiro infinitivo. Se também fazer se refere ao sujeito “presos” e nenhuma dificuldade de compreensão traz na forma impessoalizada, por que flexionar o primeiro infinitivo?
Nesta segunda notícia – pelo menos o delegado é outro – vemos agora dois infinitivos abusivamente flexionados: “Quinze presos fugiram ontem de madrugada depois de DOMINAREM os dois carcereiros e ENGANAREM a equipe de segurança externa do prédio”. Não cabe agora basear a concordância do infinitivo no distanciamento do sujeito. Deem à flexão o nome de distração, de esquecimento, até mesmo de erro; não tentem porém justificá-la com o afastamento do agente da ação verbal: infinitivo não é bola que se chute de acordo com a distância.
M) PARECER – Tanto podemos dizer “Eles parecem estar doentes” como “Eles parece estarem doentes”.
No primeiro caso (Eles parecem estar doentes) o verbo parecer está empregado como verbo de ligação, sendo seu predicativo “estar doentes”: Eles (sujeito) parecem (v. de ligação) estar doentes (predicativo).
No segundo caso (Eles parece estarem doentes) o verbo parecer está empregado intransitivamente, isto é, com sentido completo, e é seu sujeito “estarem doentes” – equivalendo a oração a “Estarem eles doentes parece” ou “Que eles estão doentes parece”.
O verbo parecer, pois, quando o sujeito da oração está no plural, faculta estas duas construções: 1. Eles parecem estar doentes – 2. Eles parece estarem doentes. Nada, portanto, deverá estranhar-nos a flexão do infinitivo quando o verbo parecer estiver no singular, nem a não flexão do infinitivo quando o verbo parecer vier no plural: Escudos que os compridos saios de malha pareciam tornar inúteis – Que pareciam desprezar as tribos berberes – Que parece entoarem-lhes já o hino da morte – Lanças que parecia encaminharem-se – Os quais lhes pareceu dirigirem-se para os lados do célebre mosteiro – Tais condições me parecia reunirem-se.
N) EXCLAMAÇÕES E INTERROGAÇÕES – Nas exclamações e nas interrogações o uso do infinitivo flexionado mostra que se quer referir a ação em especial a certo sujeito: Tu, Hermengarda, recordares-te? - Assassinares uma fraca mulher!
O) ADVERTÊNCIA – Não confundamos o infinitivo pessoal com o futuro do subjuntivo (grifei); em “Ganharemos se merecermos” não existe infinito mas futuro do subjuntivo. A confusão  diminui, ou melhor, desaparece quando o verbo é dos irregulares que trazem essas formas verbais diferentes; prestam-se, por isso, para a verificação do real tempo empregado: “Ganharemos se fizermos (jamais fazermos) dois pontos” – o que demonstra ser futuro do subjuntivo e não infinitivo o merecermos do primeiro período.
Se confrontarmos o infinitivo pessoal com  o futuro do subjuntivo dos verbos regulares e de muitos irregulares, notaremos haver igualdade de flexão. Infinitivo pessoal: amar, amares, amar, amarmos, amardes, amarem. Futuro do subjuntivo: amar, amares, amar, amarmos, amardes, amarem. Não se dá o mesmo com  uns tantos verbos irregulares; fazer, p.ex., conjuga-se no infinitivo pessoal: fazer, fazeres, fazer, fazermos, fazerdes, fazerem, mas no futuro do subjuntivo as formas são: quando eu fizer, fizeres, fizer, fizermos, fizerdes, fizerem, porque este tempo se origina da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito, mediante supressão do am final: fizer(am). O futuro do subjuntivo do verbo ver, à diferença do infinitivo pessoal (ver, veres, ver, vermos, verdes, verem), é: quando eu vir, quando tu vires, quando ele vir, quando nós virmos, quando vós virdes, quando eles virem. Provém de vir(am). (459, n. 1, ao pé da pág.).
Se a confusão é difícil em tais poucos verbos irregulares, torna-se ela fácil nos demais verbos. Somente essa confusão explica o erro destas duas construções, encontrada a primeira em título de artigo de jornal, a segunda em prefácio de livro de latim: “... renda de quem recolhê-la na fonte” – “... se a geração de agora limitar-se ao estritamente essencial”. Em ambas o pronome está mal colocado; o futuro do subjuntivo, como o do indicativo, não permite a posposição do oblíquo; é erro igual a dizer “de quem fizé-las”, “quando pusé-las de lado”, “se disser-te outra vez”.
Se a primeira das construções mais acima citadas foi redigida por quem fez curso de jornalismo, e a segunda por quem se laureou em letras clássicas, como aceitar a “inutilidade da gramática”? A andar nesse passo, a tal de “linguística” que certos professores se puseram agora a propagar em nossas escolas irá reduzir a língua portuguesa no Brasil, daqui a umas duas ou três gerações, ao nível do linguajar das cozinheiras de hoje.
P) – CONCLUSÃO – Devemos limitar a flexão do infinitivo aos casos de real necessidade de identificação do seu sujeito. Não verificada essa necessidade, deixemos intacto o infinitivo: O ministro exorta os bancos a correr riscos compatíveis com a sua envergadura – Esforçam-se por fazer o máximo – Convidamo-los a assistir ao casamento – Preparados para enfrentar a situação – Faça-os ficar quietos.
Menos erra quem não flexiona um infinitivo do que quem na dúvida se arremete a fazê-lo. “Distância”, “esquecimento” são desculpas para construções como esta de um editorial: “... os desabrigados, muitos dos quais tiveram de dormir ao relento depois de HAVEREM perdido um dia de trabalho”. O sujeito é um só e foi já enunciado; não se pode aceitar o pretexto de “clareza” para a flexão; é por outro lado inconversível o infinitivo em modo finito. Redijamos sem medo: “Tivemos de engolir a peta depois de OUVIR a resposta”.
O abuso cada vez maior da pessoalização do infinitivo é uma das várias provas da contínua deteriorização do nosso idioma e da insegurança de sua sintaxe para a expressão do pensamento.
O próprio Soares Barbosa abriu a comporta para o chorrilho de pessoalizações ao incluir na segunda parte de sua regra o infinitivo posposto a uma preposição como pretexto para a flexão; o exemplo do editorial passa a ter sua justificação, mas a ninguém deve então causar estranheza este aviso de porteiro de prédio: “Pede-se aos senhores passageiros a fineza de, ao ENTRAREM ou SAÍREM, FECHAREM as portas do elevador”.

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